Como é seu relacionamento? Crescemos em um mundo inundado de histórias de amor da Disney ou de Hollywood. Aprendemos então que só se é feliz ou completo quando se encontra a pessoa da sua vida, a metade da sua laranja, a tampa da sua panela. Quando a maior história de amor da nossa sociedade é Romeu e Julieta, uma história triste e violenta sem um final feliz, um casal apaixonado e enlouquecido, que perde sua individualidade e na certeza de que não seria possível uma vida sem ter esse amor, se matam. Entendemos que precisamos encontrar alguém e que o amor dói e precisa ser difícil para ser verdadeiro.
Agora na realidade do século 21 no Brasil, vemos a realidade através de pesquisas do IBGE que nos contam que o tempo médio entre a data do casamento e a data da sentença ou escritura do divórcio caiu para 14 anos. O número de uniões registradas diminuiu 3,7% e o número de divórcios aumentou 8,3%, a proporção é de três casamentos para um divórcio. Em 1984, representavam cerca de 10% do universo de casamentos, com 93.300 divórcios. Esses números saltaram para 31,4% em 2016 com 1,1 milhão de matrimônios e 344.000 separações, são assustadores 580 divórcios por dia.
A paixão é maluca e estudos neurológicos concordam que estar apaixonado altera o funcionamento cerebral. Neste momento não conseguimos pensar racionalmente, podemos fazer coisas que em outros momentos nunca faríamos, acreditamos no melhor dessa outra pessoa, o que impede que você veja os defeitos e detalhes.
Ficamos embriagados com essa emoção, é tudo mais intenso, você quer falar o tempo todo, pensa o dia toda na pessoa, faria qualquer coisa para estar junto para esse relacionamento dar certo. Assim como a adolescência a paixão precisa acabar, afinal já ficamos tempo demais com o pé fora do chão e até os relacionamentos precisam evoluir.
Porque pensamos assim?
Mas o amor não precisa ser difícil após a paixão, brigas não precisam ser parte do relacionamento, você não precisa se matar como em Romeu e Julieta. Um relacionamento maduro e saudável não é difícil, você não precisa engolir sapo e aguentar problemas para fazer ele durar. Existem muitas interpretações que possamos dar ao dados do IBGE, e eu posso te garantir que ir embora na primeira briga não é a realidade. Mas eu sei que você escuta isso, porque quem está te dizendo acredita nesse amor sofrido e que sim, você tem que aguentar sofrer.
No meu entendimento, a partir dos casos de divórcio e de casamento que acompanhei todos esses anos no consultório, é que as pessoas casam sem ter conversado profundamente sobre o que isso significa, sem o que eu chamo de contrato. Quando elas se veem casadas e frustradas, ficam brigando anos e anos, até não aguentar mais e se separarem. O casamento não dura porque ele é ruim, porque as pessoas não conseguem se entender, porque elas não têm nada em comum, porque elas não têm os mesmos objetivos e não porque elas são fracas.
E a partir de Lei 6.515/77, popularmente conhecida como a Lei do Divórcio, a possibilidade de dissolução oficial do casamento, no Brasil, só surgiu em 28 de junho de 1977. Por isso é óbvio que o número iria aumentar muito em 40 anos, o mesmo tempo que tem a lei, porque agora é uma possibilidade antes não era. Isso só significa que as pessoas ainda não estão conseguindo escolher bem seus parceiros e não sabem como ter um relacionamento saudável. Em sua maioria nem sabem como deveria ser um bom casamento, muito menos como mantê-lo de uma forma feliz e não sofrendo porque isso é um dever.
Como deveria ser o relacionamento saudável?
Tem que ser tranqüilo, não é arrebatador como a paixão adolescente, nem vive sobre a ameaça de um término. Se relacionar de forma madura é ter a certeza de que pode dizer o que está sentindo e pensando, com a delicadeza e carinho necessários, e que será escutado e entendido dessa mesma forma. É poder sonhar com um futuro feliz juntos, desejar e planejar, caminhar lado a lado. É entender os limites da outra pessoa, ter respeito por quem ela é, e admirar suas qualidades e defeitos.
Talvez se eu escrevesse mil páginas e não conseguisse te contar como é amar, isso eu tenho certeza. Mas eu acredito que ele é possível para todos e que você deve receber o melhor tratamento, ser respeitado, cuidado, e sentir um amor tranquilo e correspondido. Não aceite nada menos do que isso. Então vamos começar desde o começo, ou seja, se conhecerem.
A paquera, o primeiro encontro, as primeiras palavras, o flerte, o primeiro beijo, o primeiro sexo, tão visceral mas que perpassam várias linhas de uma moral social que determinam como esses primeiros momentos deveriam ser. Esperam então que o futuro casal só mostre sua melhor parte e escondam tudo que seria “reprovado”, dizendo então que o que não é inteiramente bom ninguém suportaria então não iriam te querer. Não devem falar do passado ou de outros relacionamentos, como se fosse possível iniciar uma vida toda do zero, e deixando as entrelinhas que o passado é obscuro, ou seja, teriam ali para se envergonhar, e que isso afastaria as pessoas de você. A mulher nesse momento deve agir como virgem, santa, delicada e cordial. O homem deve pagar a conta e ser gentil, mas ao mesmo tempo viril.
Eu fico sem entender como o começo de um relacionamento baseado em mentiras, pode vir a ser bem sucedido. Afinal, não adianta dizer que não é ciumento e a primeira vez que ela for sair sozinha fica em casa se retorcendo, não se mantém a farsa de que é baladeira se na verdade só queria ficar em casa debaixo do cobertor. Como vamos escolher alguém para se relacionar se a verdade não pode ser dita?
Como você irá escondê-la por tanto tempo e ao mesmo tempo desvendar o outro? Sim eu confesso que o jogo da conquista pode funcionar, e sei que existem muitos coaches ganhando rios de dinheiro querendo te contar todos os segredos dos jogos da sedução e do relacionamento. Aquele momento em que você demora para responder porque o outro vai ficar mais interessado, pode realmente funcionar.
Mas a minha pergunta é, pra que? Que pessoa é essa que você quer seduzir que precisa ser enganada? Que pessoa você é que precisa esconder tanto a verdade? Será que você é mesmo uma pessoa horrorosa e que ninguém nunca vai se interessar por você? Ou será que estamos falando de falta de autoestima e uma imposição social gigantesca?
Ou você faria o joguinho de sedução o tempo todo, esperando o outro adivinhar porque está bravo ou esperando ele te surpreender. Eu acredito que seja um esforço desnecessário, prefiro que fale logo tudo que está acontecendo, prefiro pedir, reclamar, colocar o meu desejo em um lugar de importância, dessa forma, fazer joguinho seria somente um fingimento. Afinal, quando tudo está na mesa podemos realmente escolher se relacionar, é a forma mais real e possível de imaginar se isso dará certo.
Qual é a realidade do seu dia a dia? O que é importante pra você? Tudo que gosta de fazer? E detesta? Qual sua posição política? O que quer fazer no seu futuro? Filhos, você quer ter? Como pretende criá-los? Como você lida com problemas? De que maneira se relaciona com a sua família? E com seu trabalho? Tem amigos?
Se essa pessoa não gostar de alguma das respostas ele pode ir embora, porque não existe nenhuma possibilidade de um relacionamento dar certo se a pessoa rejeitar/abominar algo que é uma parte importante sua. Pode demorar mais vai aparecer alguém que goste das suas partes ou que respeite você ter elas como suas. Porque tudo vai aparecer na vida de vocês se o relacionamento acontecer e desejamos que ele seja bom, feliz e tranquilo.
Agora que esse relacionamento existe e é incrível, vocês veem seriados juntos, comem em restaurantes deliciosos, sonham com uma viagem juntos e começam a ter planos. Mas algumas coisas ainda precisam ser ajustadas, pequenas arestas, que hoje não são suficientes para se separarem, mas que, se muito acumuladas podem se tornar grandes bombas.
Então eu vou aproveitar esse momento para te contar um segredo de casada e de psicóloga também. Essa parte do texto é para aqueles que pretendem namorar, que já namoram, que são noivos e aqueles que já são casados há um mês ou 50 anos. Pra mim, um relacionamento sem discutir a relação continua sendo sempre a mesma porcaria que sempre foi, ou seja, perde todas as chances de melhorar e de ficar bom um dia. Então eu desejo que vocês “briguem” com muito amor.
Primeiro certifique-se das condições adequadas, por exemplo locais públicos, eventos com outras pessoas, festas, no meio de um momento de estresse, são péssimas alternativas pois vão deixar o problema muito pior. Por ser algo particular, que diz respeito apenas a você e seu parceiro, tenha em mente que a privacidade é fundamental para se ter uma discussão construtiva.
O mesmo pode ser dito sobre o humor dos dois no momento da conversa. Fazer isso com os ânimos exaltados nunca é uma boa ideia, o estresse e a raiva são péssimos temperos. É a fórmula para o fracasso para virar um compilado de ofensas e um jogar na cara do outro, nada bonito.
Prefira que vocês estejam focados e calmos, tempere somente com amor e carinho. Não é estragar o clima ou querer procurar briga, é tentar os dois juntos com todo amor do mundo melhorar o relacionamento. É um momento de construção do relacionamento não de destruição. Ninguém constrói casa nenhuma sem planejamento, é a mesma coisa de um relacionamento.
Vocês precisam sentar, conversar e discutir para saber como será o próximo tijolo, onde será colocado, qual a cor da parede, quantas gavetas de armário vocês precisam. Os problemas nunca irão embora só esperando o tempo passar ou que a ficha caia por um milagre.
Mas antes de sair dizendo, você precisa organizar suas as ideias, entender o que você sente. É muito diferente dizer você é imprestável ou dizer que essa semana você não fez nenhuma atividade da casa, eu fico me sentindo sobrecarregada, será que podemos combinar uma forma melhor de dividir, até para que eu possa ter mais tempo com você?
Ou dizer que ela é completamente irresponsável, sendo que essa palavra pode significar um milhão de coisas, e a pessoa com toda certeza vai fica extremamente ofendida e vai começar a se defender e pior, te atacar. Quando você puder olhar os fatos, dados reais, quem sabe até numéricos, ter exemplos, vocês poderiam estar ali para conversar e não para se ofender.
Escolher dizer “eu ando me sentindo sozinha, porque esse mês você trabalhou muitas vezes até tarde”. Isso é um dado indiscutível, você tem como verificar e provar, isso é importante, porque não existe brecha para a pessoa jogar a culpa em você ou falar que você é louco ou que está fantasiando ou qualquer coisa que faça com que o problema não seja resolvido.
Eu sei que você quer que o problema seja resolvido exatamente do seu jeito, mas o que você pode ceder? Entenda que você é parte do problema e se responsabilize também pela solução. Isso não quer dizer para você se virar sozinho, mas que você não pode jogar a lista de problemas e sair andando. Além de que, provavelmente a pessoa toma determinadas atitudes porque você nunca foi enfático em dizer que não gosta ou foi deixando rolar, seja por qualquer motivo.
Esteja à disposição para ouvir o seu parceiro quando ele possui os próprios motivos para estar insatisfeito com outras coisas, ou até para ter esse comportamento que você não concorda. Entenda que a pessoa tem o lado dela e a verdade dela, que pode ser muito diferente da sua e nem por isso menos verdadeira. Uma pessoa certa não significa que a outra está errada.
Entrar em uma conversa com tanta raiva que nem quer escutar, discutir, ou eu só quero mandar, é um sinal muito ruim de como esse relacionamento está funcionando e com toda certeza não trará nenhum resultado. Lembre-se de que, em um relacionamento a dois, ambos devem estar abertos para ouvir e para trabalharem juntos na solução do problema. Os dois deveriam pelo menos teoricamente querer melhorar o casamento.
Não jogue poeira embaixo do tapete, eu brinco que são abelhas que quando conseguem sair vão querer te picar, vão estar furiosas. Pois a sua insatisfação pode vir à tona quando sua paciência se esgotar. Por menor que sejam as divergências, fale sobre isso antes que elas se transformem em discussões sem paciência com ofensas e sem resolução, que vão destruir seu casamento.
Perceba que para você chegar ao ponto do saco cheio, de não aguentar mais, de perder a paciência, quer dizer que ele encheu e não deveria, não deveria ter um elefante no meio da sala, não deveríamos precisar limpar a sujeira que foi jogada no ventilador se ela não existisse, se ela fosse limpa antes de se espalhar.
Parece irreal mais é verdade, você não espera sua casa estar intransitável para limpá-la, bom pelo menos eu espero. Por quê você espera que seu relacionamento fique insuportável para começar a limpar a sujeira? Além disso, dizer coisas sem acúmulo e pontuais, transformam a temida DR em uma conversa absolutamente normal e sem nenhum sentimento ruim, ou seja, com o potencial de ser produtiva e engrandecedora.
Pense em como irá comunicar o problema, por exemplo, “precisamos conversar sobre as finanças da casa”, em vez de “temos que falar sobre seus gastos com coisas desnecessárias”. Veja em outro exemplo, “estou me sentindo solitária, gostaria de me sentir mais próxima de você, será que podemos conversar mais?”, é melhor do que dizer “Você parece uma parede, não reage a nada, não ajuda em nada”.
É pior dizer uma fantasia sem embasamento, “você só pode estar me traindo”. Perceba como a perspectiva muda completamente quando ela não está inferiorizada e subjugada. Tome cuidado para que não pareça um ataque à pessoa ou a uma atitude dela. Deixe claro que sua intenção, e até as preocupações que tem em falar desse assunto tão delicado, “me preocupo de você ficar muito bravo comigo e não entender o que eu quero dizer, queria que a gente pudesse conversar para o nosso relacionamento ficar melhor. Eu fico muito triste quando você não responde quando estou falando com você, sinto que você não está mais interessado em mim”.
Não jogue tudo no mesmo balaio, quando você junta 1 milhão de assuntos e ninguém entende nada. Não traga coisas do passado que não podem mais ser resolvidas, por isso é importante que desde o começo as brigas tenham fim, para não sobrar essas pontas soltas que irritam sempre. A parte mais abandonada de uma DR é o final, as pessoas desabafam e desabafam até que alguém desista. Isso não resolve nada, você não precisa abaixar a poeira, precisam melhorar o relacionamento.
Tenham o tempo que precisarem, pensem na solução amanhã, semana que vem, se precisar até daqui 2 meses, vocês voltam e resolvem, não tem problema parecer uma vitrola engasgada, repetindo a mesma coisa, isso é importante.
Um bom relacionamento saudável e maduro, se alimenta do carinho, do amor, do cuidado, do respeito, da boa convivência, mas também das DRs. Claro que ser feliz, comemorar e viajar é importante. É a melhor parte eu diria, mas essa parte eu não preciso te ensinar, não preciso escrever grandes textos para te ensinar a namorar e a importância de curtir a vida dois. Mas vou te dizer algumas outras coisas importantes, para que você não se esqueça.
Tenham objetivos em comum, queiram o futuro juntos. Não existe futuro bom se cada um quiser uma coisa, um filho ou viajar o mundo de barco, se um quiser fazer 5 milhões em 1 ano e o outro morar em uma casa simples no interior. Eu brinco que vocês precisam ter para onde ir, porque vejo o relacionamento como uma caminhada, uma trilha. Precisamos saber o caminho para chegar, saber quais paisagens ver no caminho.
Não se esqueçam nunca, de se divertir, mas aqui vai um alerta: curtir a vida a dois, não é só sexo, jantar, ver filme, passear ou viajar. Não existe casal quando estão com filhos, isto já é uma família, ou mesmo quando estamos com amigos. Um casal tem duas pessoas, só duas, e precisa que as ambas queiram se reencontrar e dar atenção somente um ao outro, não ao celular, não ao grupo de amigos, não aos filhos.
E se você tiver aí grandes dicas de como viver um amor arrebatador e que te faça bem conta aí pra gente.
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