Uma vez um seguidor me perguntou se remédio psiquiátrico curava, eu disse que não. Ele entendeu que eu odiava e demonizava psiquiatra. Na verdade o problema estava na pergunta dele, o que ele esperava com a palavra curar. Quando falamos em infecção urinária por exemplo, curar seria acabar com a infecção, você repetiria o exame e o resultado seria negativo.
Não é essa mesma visão que temos, tanto psicólogos como psiquiatras sobre as doenças mentais. Não existe uma sequer posologia de remédio psiquiátrico que diga categoricamente tomar a cada 12 horas durante 20 dias.
Existe uma rixa fantasiosa sobre psicólogos e psiquiatras, como se um acreditasse que seu trabalho é melhor e considerasse como inútil o trabalho do outro.
Acredito que já tenha ficado claro o quanto isso pra mim é a maior das mentiras. Pois o trabalho desses dois profissionais não é só diferente, mas complementar.
Com esse texto você irá aprender:
- Qual a diferença entre psicólogos e psiquiatras?
- Porque ouvimos tantos relatos ruins sobre essa relação?
- Remédio psiquiátrico causa dependência?
- Diagnóstico importa?
- Qual a diferença entre doença mental, distúrbio e transtorno psiquiátrico?
- O que devo perguntar ao psiquiatra?
Quais são as diferenças entre um psicólogo e psiquiatra?
Psiquiatras, atuam na química do cérebro pelos medicamentos, sem eles seria impossível o tratamento de casos mais graves. Psicólogos curam através da fala modificando o pensamento, e a forma de lidar com os problemas.
O Psicólogo muitas vezes atende casos que não necessitam de tratamento psiquiátrico, pois são problemas e dificuldades do cotidiano. Eu costumo indicar uma avaliação psiquiátrica quando percebo que o sintoma é persistente e vem prejudicando a vida do paciente.
Alguns casos graves que o psiquiatra atende são de pacientes que o atendimento psicológico seria muito difícil ou até inútil, pois a comunicação está quebrada. Em que o medicamento muitas vezes precisa ser parte da realidade para sempre, para assim possibilitar uma vida mais próxima do comum.
Eu, como psicóloga, com um paciente esquizofrênico não consigo fazer nada se ele não estiver devidamente medicado. Pois não importa o quanto eu converse, a química do cérebro dele não vai se alterar. Ele precisa de certas substâncias que só a medicação correta pode dar.
O psiquiatra pode tratar uma depressão, mas ele só vai conseguir estabilizá-la emocionalmente, mas não conseguirá tirá-la desse estado. Pois, é necessário muitas vezes que a pessoa altere pensamentos, como a forma como ela se sente, como percebe sua personalidade, como se relaciona com outras pessoas.
Existem alguns sintomas que, com a psicoterapia, o problema já pode ser resolvido. Mas eles estão causando problemas no trabalho, na vida, a pessoa está indo parar no hospital, está ficando sem dormir, o que seria muito narcisismo idealizar que não precisaria desse encaminhamento, e deixar essa pessoa sofrendo, porque psicoterapia e a psicanálise leva algum tempo. Existem casos, por mais que não sejam graves transtornos, em que a pessoa precisa de ajuda rápida e o remédio pode proporcionar isso.
A dúvida de escolher um ou a outro é muito grande. Se você procurar no Google, pode encontrar inúmeras respostas que, para mim, não tem sentido nenhum, porque a mente ou o corpo são uma coisa só. Um bom psiquiatra sabe também quando não medicar e um bom psicólogo sabe quando encaminhar.
Porque ouvimos tantos relatos ruins sobre essa relação? Psiquiatra e psicologo?
Além do fato de existirem sempre profissionais bons e ruins em qualquer área, existe um agravante. É muito comum reclamarem de ansiedade ou depressão para qualquer médico de outra especialidade. E é aí que encontramos complicações ao meu ver pois ele não foi treinado para isso. Muitas vezes é um caso simples, no entanto, a psiquiatria é muito complexa e se atualiza com muita frequência, e como não é a área dele ele não tem o conhecimento necessário para fazer a modulação necessária.
Outro agravante é que ele não irá fazer o acompanhamento dessa medicação. COMO ASSIM? Demoram 15 dias, normalmente aumentando as frações para a medicação fazer efeito. Depois de um tempo curto, é necessário verificar como o paciente está respondendo ou a necessidade de alterar a dose, o horário e as substâncias. Quando o remédio não for mais necessário, é preciso fazer uma retirada gradual, e não quer dizer quando der na cabeça do paciente, o que é estimulado quando ele percebe que está bem e não vê motivos para voltar ao ginecologista ou cardiologista.
Dessa forma, a indicação medicamentosa perde sua especificidade e passa a ser popularmente indicada como uma automedicação. Assim, passa de certa forma a ser comum encontrar pessoas mal medicadas, demonizando os remédios psiquiátricos e consequentemente os profissionais psiquiatras.
Isso quer dizer que se sua amiga ou tia tiver usado um remédio eu tenho certeza de que não é bom pra você. Se alguém lhe oferecer um comprimido ou um cartela, não aceite, mesmo que esteja passando por um momento ruim.
É algo que altera o seu cérebro. Sabe aquele órgão responsável por todo seu corpo? Então, é bem sério e grave. É preciso sim ser tomado na hora, todos os dias, se a indicação é ½ comprimido você tem que tomar ½ comprimido, orientado pelo seu psiquiatra. Sempre ir a todas as consultas e tirar suas dúvidas. Lembre-se que ele estudou muitos anos para isso.
Não seria estranho um oftalmologista te indicar um remédio para os rins? Ou um dermatologista te indicar ou remédio para o seu coração? É a mesma coisa da sua tia te indicar um calmante ou da sua terapeuta indicar um remedinho para dormir.
Remédio psiquiátrico causa dependência?
Sim e não. Remédios mais antigos tinham muitos efeitos colaterais e poderiam causar dependência mas medicamentos das novas gerações correm menos o risco disso acontecer, inclusive muitos do que causaram esse efeito foram retirados do mercado brasileiro.
Sua preocupação não deve estar em procurar um bom psiquiatra que te acompanhe regularmente. Não tem nenhum sentido ter medo de procurar ajuda por isso. Um médico capacitado vai saber a dosagem e o tempo que você vai tomar para que isso não aconteça.
Além disso ele te indicará fazer psicoterapia, porque é dessa forma que você irá se conhecer melhor, lidar melhor com seus problemas e se desenvolver mentalmente, e assim não sofrer mais os sintomas que te levaram a precisar de medicação.
O mais importante para os casos mais comuns como a ansiedade, fobia e depressão, é compreender e sanar o motivo da sua saúde mental estar sendo prejudicada. Afinal, se o problema é seu trabalho e você continuar nele, da mesma forma não fará sentido nunca parar com a medicação.
Se lembra, daquele meu exemplo no começo do texto? É exatamente essa a confusão. Quem leva o medicamento para dormir como a única forma de se acalmar, sim, talvez fique viciado. O que quer dormir e relaxar, e entender o porque está tendo dificuldades de se deixar levar pelo seu inconsciente, logo poderá diminuir e até encerrar com o uso da medicação.
Outros diagnósticos com Esquizofrenia, como eu disse acima se beneficiam da psicoterapia, mas necessitam de medicamentos psiquiátricos por toda a vida, já que existe um problema ligado a neurotransmissores. Nestes casos tomar remédio a vida toda não é um vício, e sim necessidade. O que não exclui a também necessária visita regular ao seu psiquiatra.
Diagnóstico importa?
Imagino que você teve um diagnóstico ou alguém da sua família e por isso está muito confuso. Eu vou te explicar agora o que você precisa saber. Essa é uma dúvida que sempre escuto no consultório e quando eu questiono, e tento entender a questão, parece que a pessoa está super perdida com o que aquela doença, e aqueles nomes significam.
Existe uma preocupação quanto à essa informação, que é o que alguém sem a formação adequada vai fazer com esse nome da patologia que recebeu como diagnóstico. O Google está aí cheio de dados que muitas vezes não descrevem o seu caso em particular. É importante saber que seu cérebro não é tão específico, quando se fala em psicopatologias, diversas áreas do cérebro são comprometidas, dessa forma não é tão simples ou estático um diagnóstico poder ser misto ou transitar.
Pessoalmente tenho restrições quanto a dar o diagnóstico, pois não vejo função para ele na vida do meu paciente. Sua vida não vai ficar mais fácil sabendo esse nome, não vai resolver nada, pois o que você precisa é de tratamento. Ele é sim muito útil e necessário para o prontuário e para trocas de informações entre os profissionais de saúde, para que decidam qual será o tratamento adequado.
Se a condição for tão importante e grave, prefiro que o diagnóstico seja dado por um psiquiatra se ele julgar necessário, pois considero que seja dele essa responsabilidade.
Eu vejo em grupos no facebook essa necessidade de saber o diagnóstico por motivos que não fazem sentido, como saber qual foi o tratamento que a pessoa fez, o que já discutimos aqui que não faz sentido. Outro motivo comum é quando existe uma divergência de diagnósticos entre psiquiatras ou entre o psiquiatra e o psicólogo, mas o que importa é confiar no profissional e ver se a medicação teve efeito, se existe evolução no tratamento psicológico, e para isso precisamos de tempo. Outro motivo e infelizmente o mais triste deles, é querer usar esse diagnóstico de bengala, do tipo “me comportei assim porque eu sou X”.
Quais são as diferenças entre doença mental, distúrbio e transtorno psiquiátrico?
Vou te mostrar um exemplo prático. Perceba a diferença entre essas nomenclaturas, mesmo tentando te explicar claramente, algumas dessas informações te ajudaria?
Em geral, as doenças são definidas como um estado de ausência de saúde, porém essa definição não é muito objetiva. Podemos caracterizar uma doença como alteração em determinado órgão, na psique ou até mesmo do organismo como um todo, que leva a sintomas específicos e apresenta causas conhecidas. Ter uma causa reconhecida, manifestar-se por meio de uma sintomatologia específica, e provocar alterações no organismo, sejam elas visíveis ou detectadas por meio de exames.
As síndromes são definidas como um conjunto de sinais e sintomas que acontecem ao mesmo tempo no paciente e podem ter causas diversas. Ou seja, diferente do que acontece em uma doença, a sintomatologia das síndromes é inespecífica. Dessa forma, alguns pacientes diagnosticados com síndromes podem nunca chegar a um veredicto definitivo sobre a causa de seus sinais e sintomas.
Exemplos: Síndrome de Asperger, Síndrome de Estocolmo, Síndrome de Munchausen, Síndrome do pânico.
Transtorno pode ocorrer no âmbito da saúde mental e levar ao comprometimento das ações do dia a dia do paciente, e de sua personalidade, causando-lhe sofrimento ou incapacitação. Esses e outros transtornos mentais não apresentam uma única causa definida, podendo ser resultado de aspectos biológicos (como o déficit ou o excesso de produção de um neurotransmissor) e psicológicos (a forma como o paciente se comporta e interage com o ambiente). Algumas vezes, eles também são chamados de “distúrbios”. Quando se fala em alterações de ordem mental, prefere-se o termo “transtorno” porque o paciente raramente apresenta todos os sintomas e sinais que caracterizariam uma doença. Exemplos são o transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, Transtorno obsessivo compulsivo, transtorno borderline.
O que pergunto ao psiquiatra?
Agora vamos falar de algo que realmente é útil e vai fazer diferença nas suas consultas, no seu tratamento e na sua melhora da saúde mental. Isso vai ser útil para você poder se programar, se cuidar, vai te dar ferramentas para se relacionar e explicar para as pessoas o que você tem, e de qual forma essas pessoas ao seu lado podem te ajudar. Ao contrário, saber o nome da doença só serve como bengala.
- Eu vou ficar curado?
- Eu vou precisar me cuidar e preocupar com isso a vida toda?
- Como que vai ser o tratamento?
- O que eu devo esperar?
- Quanto tempo pode durar o tratamento?
Sabendo dessas respostas você está preparado para como ele será e o mais importante, deixará suas expectativas alinhadas com os profissionais que te atendem, para que dessa forma, você diminua sua ansiedade e frustração com as dificuldades que poderão surgir no caminho.
Agora você já entendeu o que o diagnóstico significa, se você deve procurar um psicólogo e/ou um psiquiatra. Sabe até o que perguntar a eles. Dessa forma, tem todas as ferramentas para melhorar sua saúde mental e ter uma vida muito mais tranquila.
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