Todo mundo sente vergonha.

Em um primeiro contato na psicoterapia, é normal não saber como se portar ou o que dizer, é muito comum a pessoa sentar-se à minha frente e dizer: “não sei o que estou fazendo aqui”, “não sei nem por onde começar” ou “não sei o que dizer”.

Não é um lugar conhecido, muito menos confortável, você está sendo colocado em uma posição que nunca esteve: ser paciente. Além disso, é muito difícil estar disposto a se abrir e revelar suas mais profundas feridas e intimidades para alguém desconhecido.

Todos têm medo do que irão ouvir, de serem julgados e analisados por suas falhas. Em nossa sociedade, é muito comum o julgamento e a crítica. No entanto, a partir do momento em que a porta do psicoterapeuta fecha atrás de você, isso fica para fora, pois, nesse ambiente apenas vocês dois compartilharão as experiências penosas e de sigilo, num clima de confiança, aceitação e proteção.

Acredite, ainda não sei se isso é uma coisa boa ou ruim, mas, ouvir tantas histórias faz com que o espanto diminua, cedendo ao estado mental de tranquilidade ao ouvir o outro e a empatia em acolher àquela dor, seja violência sexual, agressão, traição, sexo ou qualquer assunto que aos seus olhos sejam um absurdo ou a maior bobagem. É importante que você também esteja livre do julgamento e da cobrança que faz consigo mesmo em relação às suas histórias de vida.

O ritmo é seu na psicoterapia.

Quando você começa a contar sua história, seu psicólogo nunca a ouviu e para entender lhe fará algumas perguntas, na verdade, durante todo o processo psicoterapêutico ele estará nessa posição de compreender sua experiência emocional das vivências relatadas e construir com você os significados das trajetórias da sua vida.

O caminho que vocês terão de percorrer será sempre junto, não adianta o terapeuta ser o melhor do mundo ou querer encerrar o processo em seis meses, para ele ser efetivo é necessário que os dois estejam implicados nessa tarefa, ou seja, estejam preparados e disponíveis tanto externamente (com pontualidade e assiduidade nas sessões) como internamente (disposição psicológica para encarar um longo processo de autoconhecimento e uma nova relação que se inicia entre terapeuta e paciente).

Uma pergunta frequente é em relação a duração da terapia. É claro que existem técnicas mais breves, porém, não adianta colocar o carro na frente dos bois, é impossível prever o tempo necessário para digerir tantos acontecimentos e desconfortos ou mudanças grandes acontecerem.

Uma sessão dura cerca de 50 minutos para resumir os conteúdos do seu pensamento e seus sentimentos em uma semana, o que você escolhe para ser dito nesse espaço terapêutico com hora marcada é muito importante e precisa ser tratado com respeito e atenção. Não é uma simples conversa para desabafar ou um mero bate papo, existe muito trabalho envolvido em uma longa jornada.

Você vai se irritar.

Não existe lugar no mundo onde podemos ter somente momentos bons. Logo, essa premissa também vale para as sessões de psicoterapia. Como na sessão muitos descontentamentos e incômodos serão abordados e problematizados, é esperado que esses momentos de maior desconforto possam acontecer e o vínculo entre psicólogo e paciente possa aguentar e suportar tal carga emocional negativa ou mesmo agressiva. Parece que estou falando de um casamento, mas, é praticamente isso mesmo! É uma relação de entrega e confiança, um compromisso de ambas as partes.

Os motivos mais comuns que deixam os pacientes com raiva são: devido ao psicólogo não dizer exatamente o que se deve fazer, por não ter o psicólogo somente para si e aceitar que ele não estará disponível o tempo todo, falar o que não quer ouvir, pelas mudanças demorarem a acontecer, pelo preço a ser pago por este acompanhamento, pelo psicólogo não manter uma relação com você fora daquele espaço.

Muitas vezes, fantasiamos como o tratamento será rápido e indolor ou até pensamos em nosso terapeuta como um amigo. Quando ele estabelece o limite profissional e os papéis assimétricos que ambos ocupam nesse trabalho, a realidade é imposta e isso pode frustrar.

Pode ser muito confuso.

Às vezes, você vai esquecer completamente o que o psicólogo disse ou não vai conseguir parar de pensar nisso a semana toda. Esse ponto é mais difícil de explicar: imagine-se com a ferida à flor da pele, qualquer coisa que relar será dolorido. Ou melhor, você já esteve em uma discussão? É difícil relatar cada palavra dita ou até distorcer certas partes, acreditando ter ouvido uma coisa e não era bem assim. É o mesmo movimento, muitos mecanismos estão atuando naquele instante para nos proteger e interpretarmos de determinadas formas o que ouvimos.

Você pode sentir que está andando em círculos, sempre falando da mesma coisa e que nunca sai do lugar. Pode parecer sacanagem minha, mas, precisamos fazer como as crianças que assistem o mesmo filme milhões de vezes, até que tudo ali tenha se esgotado e tomado forma para nós mesmos. Elaborar uma vivência, um sentimento, um conflito é recordar e repetir diversas vezes até que em alguma repetição algo novo possa ser percebido e modificado.

As interpretações podem ser muito claras para o terapeuta, mas, muito complexas para o paciente, ainda mais quando se ligam a assuntos e instâncias que antes pareciam totalmente desconexos. Por isso, tudo bem ter dúvidas e questionar tais dizeres do psicólogo, você também é membro ativo desse trabalho. Pode parecer frustrante não compreender como gostaria ou não ter as respostas que imaginava, você pode dizer isso naquele momento e compartilhar o que sente quando está vivendo a experiência da terapia.

Você vai pensar que não terá nada para falar …

Nossa vida não é sempre cheia de emoções e grandes aventuras, infelizmente, nossa vida é mais cheia de cafés da manhã monótonos.

É preciso suportar permanecer quando a maré acalma e isso é ótimo porque outros temas podem surgir. Em anos que fiz terapia e fui psicóloga posso garantir que sempre existe algo a ser falado.

Não posso deixar de contar para vocês que também existe o silêncio, esse sim é muito temido, mas, acontece como em muitos momentos da vida e por isso é necessário que ele aconteça e possamos tolerar estar somente ali.

O mundo interno é sempre muito barulhento e, de vez em quando, é ansioso, ficando difícil suportar ouvi-lo, mas, agora você tem ajuda e pode deixar que ele se comunique livremente.

Pode ser que algo muito óbvio seja dito pelo terapeuta e isso já irá mudar qualitativamente seu jeito de ver a vida. Não conseguimos ver nossa vida de fora ou nos ouvir contando aquelas histórias, por isso, um apontamento simples, como: “você já percebeu que isso que você acabou de me relatar faz você ficar tanta raiva porque é o mesmo que sua mãe fazia?”, “você já pensou que pode estar tendo essa atitude, pois, se sentiu muito diminuído como se sentia em determinada situação?”. Na terapia, o óbvio é extremamente rico, por isso é importante dizer até o que você considera que não seja produtivo.

Você pode chorar!

Nossa relação com o choro vai mudando com o passar dos anos, isto é, o motivo e o quanto precisamos ocultá-lo. Porém, uma coisa permanece sendo igual: é impossível simplesmente engolir todas essas lágrimas.

Presencio lágrimas caindo cotidianamente e, por isso,coloco sempre um lencinho a disposição e, assim, desenvolvi um profundo respeito por elas. São essas que desabam nos momentos de coragem, pois, no mundo dos adultos é preciso ter coragem para mostrar sua vulnerabilidade e impotência frente ao medo e a tristeza, que, podem ser avassaladores.

Negar a si mesmo o choro com o pretexto de ser emocionalmente forte e aguentar tudo é acreditar na fantasia de ser onipotente, o que só solidifica seus sofrimentos. Lembre-se que você não precisa esconder nada e que a função do psicólogo é acolher seu sofrimento e ajudar a pensar a respeito. É valente e maduro se desarmar e poder falar de coração para coração e de inconsciente para inconsciente.

Você não é louco por ir a psicoterapia!

Existe uma crença antiga que associa o psicólogo à loucura, com o tempo, essa ideia foi se modificando, percebemos o quanto não estar se sentindo bem é tão natural quanto comum, e pode acarretar inúmeros problemas como no trabalho, no corpo ou nos relacionamentos. Desta forma, ter um acompanhamento especializado se tornou um cuidado necessário.

O psicólogo trabalha a favor da autonomia, inserção social e qualidade de vida do ser humano e, para isso, pode ser preciso o auxílio de outros profissionais que trabalhem juntos com esses mesmos objetivos. Alguns encaminhamentos podem ser necessários, como uma consulta com o psiquiatra ou outra especialidade, isso representa o quanto de cuidado o ele tem com você.

Sempre digo que a mente não anda sozinha, ela está dentro de um corpo e ele pode estar precisando de uma ajuda. Remédio psiquiátrico não é como uma “maracujina” e precisa ser prescrito com cautela, afinal, o cérebro é quem controla todo nosso corpo. É fundamental dizer que não é motivo de vergonha precisar dele por um tempo, pois, você não está só tapando o sol com a peneira e querendo solucionar os sintomas. O trabalho do psicólogo é igualmente importante, principalmente quando é realizado concomitantemente ao do psiquiatra, já que é na terapia que as problematizações das realidades interna e externa ocorrerão.

Ao avaliar a necessidade, o psicólogo pode aumentar a frequência na psicoterapia em que vocês vão se ver, isso porque a presença é importante devido à estabilização e organização que esta proporciona. Contudo, não quer dizer que seu caso é gravíssimo e que se você faltar à sessão, o terapeuta achará que você se suicidou, também não quer dizer que ele quer todo seu dinheiro. Essa escolha é feita a partir da técnica, estudos e das circunstâncias de cada caso em particular.

Existem vários tipos de psicólogos!

Mesmo depois de terminar a faculdade e até hoje descubro ramificações da Psicologia Clínica que não conhecia, pois, existem inúmeros teóricos e técnicas a serem utilizadas. Além disso, mesmo ao escolher determinada vertente teórica, temos nossa própria peculiaridade terapêutica ao empregá-la na prática. Existem psicólogos com diversas características pessoais e que acreditam em correntes psicológicas que se identificaram ao longo de sua formação e de seu trabalho, assim, uns falam mais e outros menos, alguns são mais divertidos e outros mais sérios, há aqueles que dão dever de casa e ensinam técnicas para seus pacientes, indicam leituras e filmes, mas, posso assegurar que, independente dos recursos utilizados, todos lhe farão pensar. O importante é você poder se sentir acolhido e livre para dizer o que vier à mente.

Para finalizar, não vamos perder a deixa de enfatizar que o psicólogo não é médico, ou seja, não pode prescrever medicamentos. Ele também não é guru espiritual e orienta de acordo com a religião (que, aliás, é uma conduta ilegal), não faz cura gay, não diz o que fazer através de conselhos ou adivinha o resultado que determinada atitude e ação terá em sua vida. A psicologia tem legitimidade científica e consiste num trabalho sério que precisa da dedicação do seu cliente para que este seja efetivo.

Não desista na primeira tentativa! Na faculdade, passei por quatro psicólogos antes de escolher quem seguiria comigo nessa estrada tão sentimental e pessoal. Posso contar essa história se vocês me pedirem.

Pode ser que você piore?

Sim! Psicoterapia é como reformar uma casa, precisamos quebrar algumas paredes e escavar o chão para arrumar o encanamento. É isso que acontece com as nossas defesas rígidas que utilizamos por inúmeros anos. Quando passamos por esse momento, é comum que surja um movimento mais depressivo, pois, muitas das coisas que estavam guardadas agora podem ser reveladas e pensadas.

É crucial permitir-se vivenciar esse estado mais deprimido e poder suportar junto com  seu terapeuta aquelas dúvidas, incertezas e fraquezas. Geralmente, o paciente não aguenta essa importante fase da terapia e abandona o tratamento por não estar disponível para esse mergulho. É horrível perceber as coisas que nos aconteceram, sentimentos que calamos, ideias que reprimimos, é péssimo piorar e ninguém quer isso.

Porém, depois de conseguir olhar para a desorganização, você vai poder encaixar cada coisa em seu lugar e olhar com mais tranquilidade e menos medo para essa casa com novos revestimentos e móveis do jeitinho que você quis, depois de tanta luta e sofrimento, vai ser muito mais leve deitar no sofá. Acredite em mim, também já tive que passar por esse processo.

Como é o processo de alta da psicoterapia?

O processo de alta é repleto de duvidas até entre os próprios autores, algumas teorias prezam por um tratamento mais direcionado e rápido, outros acreditam que o autoconhecimento sempre pode ser aprofundado, assim se tornando um movimento mais longo.

De qualquer forma a melhora da queixa ou remissão do sintoma são critérios insuficientes para que a alta da psicoterapia possa ocorrer, é preciso ter a certeza de que aquele tratamento já fez tudo que seria possível naquele contexto.

São inúmeros os critérios e necessidades individuais para a alta da psicoterapia, de forma geral, é esperado que de alguma forma e dentro das possibilidades de cada caso, a pessoa possa se sentir segura a respeito das próprias potencialidades anteriores e as quais desenvolveu durante o processo, que tenha conseguido reeditar aspectos dolorosos e inaceitáveis de sua história, possa ter a capacidade de lidar com emoções conflitantes e conseguir lidar com a realidade de maneira mais saudável.

Esse momento será decidido em dupla, da forma com que tudo acontece em psicoterapia, resolvido na relação paciente-terapeuta. Se você está pensando em abandonar ou acredita que não haver mais sentido em sua continuidade, divida esse pensamento com ele para que dessa forma vocês possam pensar juntos, o porquê dessa vontade está surgindo naquele momento.

O término é também um processo de luto pela separação entre psicólogo e paciente, ou seja, daquela relação terapêutica. Porém, um dos objetivos da psicoterapia é trabalhar e estabelecer a autonomia do paciente, por isso, nesse momento de finalização é muito importante ir espaçando as sessões, até que a última aconteça, para que não seja uma separação traumática para o paciente. Apesar disso, o espaço da terapia estará sempre disponível e seguro caso seja preciso retornar.

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